Deixando a ideia de uma vida secular

   De pé no metrô, os corpos abarrotados seguem em frente até as catracas. Os cristãos vivem a mesma situação e condição de rebanho que qualquer ser humano. Todos nós, cristãos ou não, temos por obrigação viver uma vida social. Trabalhar, estudar, votar. Vivemos algo que vai muito mais além de nossa condição de Filhos de Deus, salvos por Cristo Jesus. Dentro dos templos, nós vivemos a sensação de estar completo, a sensação de vivenciar aquilo que fomos criados para fazer: adorar á Deus. Tudo parece incrivelmente belo nos momentos em que a congregação une a voz em adoração a Deus, e quando o momento acaba, nós voltamos para casa ainda exalando o perfume do mestre em nossas palavras. Poderia ser assim pra sempre... Mas não é o que acontece.

   A segunda-feira chega para todo mundo e então nós abandonamos as nossas vestes de cristãos e vestimos a nossa veste social. Trabalhar, estudar, votar. Aos poucos, no caminhar pelas ruas, nas brigas de trânsito, nas tentações, nas conversas sociais, nas atividades escolares ou no salário atrasado, nós vamos perdendo o perfume do mestre. Ansiamos pela próxima vez que o encontraremos, mas lamentamos a nossa obrigação de viver uma vida secular.

   Secular. Deste século. A Bíblia nos adverte que devemos abandonar as práticas desse século (Romanos 12: 2), mas isso traz a pergunta: "como assim? Eu devo abandonar o trabalho, a escola e os meus deveres sociais?". Deus nunca quis nos retirar do mundo, nos isolar dele, visto que o próprio Jesus andou por esse mundo, não somente nos lugares bonitinhos ou nos tempos, mas nas ruas, sinagogas e esquinas. Abandonar a vida secular nos remete a ideia de não se deixar levar pelos costumes, pela maneira de falar e de agir. Os tempos refletem o caráter do maligno, e talvez, a simples prática de ir ao colégio ou ao trabalho pode nos apresentar uma ameaça gravíssima.

   Enquanto nós associarmos o nosso trabalho ou o nosso local de estudo como uma obrigação á mais, fora da nossa vida cristã e fora daquilo que acreditamos, enquanto limitarmos a nossa vida cristã somente aos templos ou nos nossos lares, esses locais de trabalho e de estudo serão sempre uma ameaça, pois quando vamos á esses lugares, nós deixamos de ser cristãos e nos tornamos cidadãos. As tentações aparecem e nós nos deixamos levar. É preciso olhar para esses locais como um campo missionário, como uma missão do próprio Cristo Jesus. O Ide não serve somente para ir á África ou ser missionário num país distante, o Ide serve para todas as áreas da nossa vida, inclusive o nosso local de trabalho e de estudo. Se Deus te pôs ao lado dessas pessoas no seu local de trabalho ou de estudo é porque Ele acredita que em você há um potencial que é forte o suficiente pra transformar o seu cotidiano numa viagem missionária.

   Nós precisamos deixar que Deus toque também nas nossas áreas seculares, na nossa vida escolar e em nossa vida profissional. Se Jesus viveu a sua vida inteiramente em favor da humanidade, por que nós devemos entregar a ele somente metade de nossas vidas? A vida cristã é uma vida de constante entrega, algo que vai muito mais além dos momentos de adoração nos templos, uma entrega que faz de Cristo o único e suficiente motivo para vivermos. Que essa entrega não seja em palavras, mas em doações, não de dinheiro, mas de tempo.